A Ford quer ser global. Essa é a meta afirmada consecutivamente por executivos da companhia diante de jornalistas brasileiros nesta terça-feira (17), na apresentação oficial do New Fiesta.
A preocupação revela que, mais do que criar produtos atrativos, a companhia precisa reduzir custos para se posicionar de maneira competitiva em qualquer mercado do mundo. O objetivo é ter um produto que, com pequenas adaptações, consiga corresponder exatamente ao que o consumidor queira em qualquer lugar do planeta.
O New Fiesta é o primeiro produto da companhia norte-americana com essa proposta. Lançado na Europa, Ásia e, neste ano, nos Estados Unidos, Brasil, Canadá, México, Brasil, Argentina, Chile e Colômbia, o modelo basicamente é o mesmo em todos os países. A versão nas Américas é fabricada no México e equipada com motor Sigma, feito na unidade brasileira de Taubaté (SP). O projeto foi basicamente desenvolvido nos Estados Unidos, mas teve ajuda da equipe de design e engenharia do centro tecnológico da Ford em Camaçari (BA).
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G1 conferiu o carro na pista de provas da companhia na sua sede, em Dearborn, nos Estados Unidos. A empresa liberou o veículo apenas para poucas voltas em um pequeno percurso. Mesmo assim, foi possível ter uma ideia do que foi modificado em relação ao acabamento da versão europeia, apresentada em 2008 durante o Salão de Paris,
quando G1adiantou que o carro poderia chegar ao Brasil.
Carro visa retomada da Ford
"O New Fiesta é um símbolo do atual momento de renovação da Ford no mundo", afirma o presidente da Ford do Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira. Ele ressalta que o carro foi projetado para ser um dos expoentes da retomada da Ford no mundo.
Além de todas as características iguais em qualquer New Fiesta, o que chega ao mercado brasileiro possui um apelo "global" a mais: o preço diante de seu principal concorrente, o Honda City. O modelo custa entre R$ 49,9 mil e R$ 54,9 mil (confira abaixo). Enquanto que o colega japonês sai por preços a partir de R$ 57.420. Assim, se posiciona em uma categoria acima do antigo Fiesta, que continuará a ser vendido no mercado brasileiro. Mas para isso, o acabamento do carro e os itens de conforto tiveram de ser alterados.
Mais simples para a América do Sul
Nitidamente, o modelo para a América do Sul é mais simples e com excesso de plástico em painel e portas. A maçaneta interna destoa do conjunto e traz a impressão de fragilidade. O carro também não vem equipado com o sistema de conectividade Sync, presente nos modelos vendidos nos Estados Unidos, mas conta com computador de bordo central e tela LCD.
A vantagem da Ford para poder determinar esse tipo de mudança é a de ter lançado o modelo bem depois de seu concorrente. Afinal, o Honda City vendido no Brasil também não tem um acabamento primoso ou um grande apoio tecnológico.
Por fora, o acabamento do carro é impecável e exatamente igual ao vendido nos outros mercados. A grade frontal, que funciona como assinatura da marca, é perfeitamente combinada às linhas da nova geração do modelo, que ganhou faróis alongados em forma de dardo. Segundo a equipe de design, o conjunto frontal foi desenvolvido para transmitir a sensação de velocidade, objetivo que foi atingido.
Já a parte traseira traz um conceito novo, para suavizar as linhas normalmente quadradas dos modelos sedãs. Para isso, os designers da Ford partiram para os traços mais esportivos dos cupês. Assim, dependendo do ângulo que se olha para o carro, tem-se a impressão de que se trata de um hatch.
Pessoas com mais de 1,75 m têm dificuldade para
encontrar uma boa posição. (Foto: Divulgação)
Lucro ao se tratar de apelo visual, mas prejuízo para os passageiros do banco traseiro. Tais traços limitaram o espaço interno. Pessoas com mais de 1,75 m terão dificuldade para encontrar uma posição confortável. No caso dos bancos da frente, isso não é um problema. O espaço é suficientemente bom para se posicionar de forma adequada os bancos e se sentir à vontade.
Motor 1.6 flex com câmbio manual
Se esperava a opção de câmbio automático no modelo ou a versão hatch, esqueça. Pelo menos por enquanto. De acordo com Marcos de Oliveira, a outra opção de transmissão será avaliada conforme se comportarem as vendas do modelo. Já a chegada da configuração hatch é tratada com mais mistério, o que leva a crer que a Ford irá esperar a resposta do consumidor antes de importar qualquer outra novidade. Mas isso pode acontecer no ano que vem, se as previsões iniciais de vendas de 12 mil unidades por ano se confirmarem.
Enquanto isso, o carro vem apenas na configuração 1.6 flex com câmbio manual. Embora o percurso tenha sido limitado, foi possível avaliar um pouco o desempenho do conjunto. As primeiras impressões mostraram que o motor Sigma, assim como no Focus, é uma excelente opção, com boas respostas nas acelerações e desempenho acima das expectativas para um motor 1.6 (no caso, foi avaliada a versão a gasolina vendida nos EUA).
De acordo com a Ford, o consumo da versão flex é de 11,9 km/l com gasolina e 8,3 km/l com etanol na cidade. Na estrada, faz 12,7 km/l com gasolina e 8,7 km/l com etanol. O que resulta em um consumo médio e 12,3 km/l com gasolina e 8,5 km/l com etanol.
O câmbio é bom, mas nada extraordinário. Como o trecho da pista de prova tinha bastante curva, foi possível sentir a estabilidade do carro. O New Fiesta gruda bem no chão em manobras mais fechadas e em altas velocidades. Visibilidade, ergonomia e dirigibilidade também são boas. É muito fácil achar a posição de dirigir e o volante elétrico garante um conforto a mais. Infelizmente, como não havia terrenos acidentados, não foi possível sentir a absorção de impactos da suspensão.
Diferenças entre as versões
Outro trunfo do New Fiesta são os itens de segurança, mas que só poderão ser usufruídos por quem pagar por eles. A versão de entrada, que custa R$ 49,9 mil, não possui airbag, mas vem equipada com ar-condicionado, direção elétrica, vidros, travas e espelhos elétricos, rodas de liga leve de 15 polegadas, CD-player MP3, com entrada auxiliar para conexão de dispositivos eletrônicos, computador de bordo e alarme perimétrico de série.
Já a opção intermediária, de R$ 51.150, traz como diferencial freios ABS. Para fechar a lista, a topo de linha sai por R$ 54,9 mil e vem com freios ABS e sete airbags, bancos de couro, direção com acabamento metálico e descansa-braço das portas em vinil.
Preocupação com a imagem
O lançamento do carro na sede da empresa nos Estados Unidos mostra a grande preocupação que a companhia tem com a imagem da marca em um mundo pós-crise. Tanto é que mais se falou do New Fiesta do que propriamente se mostrou – a exemplo do curtíssimo e limitado test-drive. Isso porque, apesar do lucro registrado neste ano, a Ford sabe que precisa sustentar o crescimento, para não ter de passar novamente pelo turbulento período que viveu juntamente com outras montadoras norte-americanas. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, ela continua a enfrentar a concorrência das japonesas e da conterrânea General Motors.
Entre as próximas apostas globais previstas pela companhia está a nova geração do EcoSport. Sucesso de vendas no Brasil, ele será substituído por um modelo inteiramente novo, cujo projeto começa em Camaçari. O carro deverá ser lançado em 2014.